Tudo tem limite — inclusive a estratégia de negociação de Donald Trump. Quanto mais sua política de ameaças seguida de adiamentos se prolonga, menos seriamente os mercados passam a encarar suas ações. Seus alertas já não são mais vistos como motivo de alarme. Pelo contrário, o momento exige serenidade e capacidade de aproveitar as oportunidades que surgem com a erosão da confiança no dólar americano. É justamente essa a abordagem que a Europa pretende adotar, permitindo que o par EUR/USD se reestruture e se prepare para uma nova ofensiva.

Impacto da política comercial dos EUA sobre as tarifas – Visão geral em gráfico

Antes de o presidente dos EUA ameaçar elevar as tarifas sobre a União Europeia para 50%, Bruxelas havia proposto reduzir impostos de importação sobre diversos produtos e colaborar em temas como desafios globais, investimentos mútuos e compras estratégicas. No entanto, a Casa Branca queria mais — e optou por escalar o conflito.

A União Europeia deixou claro que está disposta a agir com mais agilidade. Contudo, segundo fontes da Bloomberg, quaisquer exigências unilaterais por parte dos EUA que comprometam a autonomia do bloco permanecem inaceitáveis. A Europa pretende manter sua posição firme e seguir empenhada em fortalecer a confiança global no euro. O uso repetido de ameaças sem implementação efetiva tem reduzido seu impacto.

À primeira vista, tarifas generalizadas sobre importações agravariam a recessão na Alemanha. No entanto, o PIB dos EUA também sofreria uma contração de cerca de 2 pontos percentuais, enquanto os preços subiriam aproximadamente 1 ponto percentual — um cenário longe de ser favorável para Donald Trump. O impacto sobre os americanos se refletiu no mercado acionário, e o presidente não ficou satisfeito com a queda do S&P 500. Quando o índice passou a recuar acentuadamente, o líder republicano lançou uma tábua de salvação aos mercados, na forma de um adiamento de 90 dias.

As ameaças tarifárias e os problemas fiscais não tornam o dólar mais atraente — e os compradores do EUR/USD podem se beneficiar disso. Segundo Christine Lagarde, as mudanças promovidas pelos EUA no sistema comercial global podem representar um ponto de inflexão para a moeda regional. A Europa tem a capacidade de assumir o controle do próprio futuro, ampliando o papel do euro em transações internacionais e reservas cambiais. A moeda já alcançou um marco importante.

Graças ao superávit em conta corrente da Alemanha, que atingiu US$ 248,7 bilhões em 2024, o país ultrapassou o Japão pela primeira vez em 34 anos, tornando-se o maior credor do mundo.

Dinâmica dos Ativos Externos Líquidos: Alemanha, Japão e China – Visão geral em gráfico

Esses acontecimentos ajudam a explicar por que, atualmente, o euro se comporta mais como um ativo de porto seguro do que o próprio dólar americano. Os influxos de capital voltados ao comércio e ao investimento na zona do euro, somados à queda da confiança nos títulos do Tesouro dos EUA e na própria moeda americana, são fortes motores da valorização do EUR/USD.

Do ponto de vista técnico, no gráfico diário do principal par de moedas, a primeira tentativa de rompimento do limite superior da faixa de valor justo, situada entre 1,1200 e 1,1395, terminou em fracasso para os compradores. No entanto, uma segunda tentativa bem-sucedida abriria espaço para a ampliação das posições compradas em EUR/USD. O suporte mais próximo se encontra na região de 1,1325.